Brígida Baltar

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Ações na casa

Durante os anos de 1990, Brígida Baltar fez do ateliê onde morava em Botafogo, no bairro da zona sul do Rio de Janeiro, um laboratório de experiências. Cavou buracos e abriu janelas. Ocupou espaços inesperados, fundindo corpo e casa. Colheu goteiras e lágrimas, descascou paredes, juntou resíduos, colecionou pedaços do lugar. Fotografou-se tomando banho, cortando os cabelos e em outras ações íntimas. Escreveu frases em paredes e rasgou desenhos. Plantou ervas e temperos em tijolos para cozinhar e receber amigos. Um evidente experimento entre arte e existência.

Ações na natureza

Os trabalhos na casa, de selecionar e colecionar memórias e identidades, foram estendidos para o espaço ao ar livre, incorporando a arquitetura da natureza. Um armário enche-se de terra, árvores são plantadas sobre objetos afetivos enterrados, algodões crus espalham-se como peles entre galhos. Algumas substâncias transientes, como orvalho e neblina, são coletadas em excursões pelas montanhas. A paisagem urbana surge na leitura de um livro em uma árvore, em uma tarde, em uma rua movimentada. Os atos são registrados em fotografias e filmes.

Primeiras esculturas de vidro e cerâmica

Brígida Baltar inspira-se nos seus experimentos iniciais e aprofunda a lida com materiais. As combinações dos processos de escrita, intervenção e colecionismo foram transpostas para a cerâmica – mais maleável – e para os vidros, soprados para construir orgânicas esculturas em olarias e laboratórios. Nesse momento, também fabricava recipientes como dispositivos de captura e armazenamento de suas coletas atmosféricas.

Desenhos e esculturas a partir do tijolo da casa

Quando a artista se muda da casa de Botafogo, leva algum pó de tijolo em tonéis e, durante os anos 2000, usa o material para construir novas obras. Molda livros e montanhas e desenha florestas e plantas sobre papel e paredes. Padronagens brocadas ou rendadas revelam-se com o pó sobre o chão de salas e cantos ou nas esculturas cobogós, afirmando o interesse de Brígida pela geometria informal.

Entre o real e a fábula

Paisagens veladas, corpos metamorfoseados, sentidos fantásticos. Surgem praias e lagos, que ambientam personagens híbridos – caranguejos, carpas, mulheres-abelhas e outros seres que passam a habitar a obra da artista. Aprofunda-se uma narrativa fabular.

Voar

No fim dos anos 2000, Brígida busca parcerias para estruturar projetos inéditos. Na música e no teatro encontra elementos para realizar seus novos trabalhos sobre voos, quedas, sombras, esculturas aladas, vertigens, máquinas para voar. É também o início das suas esculturas com metal, como o bronze.

Corpo, pele, irmãos

Em meados da década de 2010, o corpo, sempre presente na obra de Brígida Baltar, toma uma abordagem particular, em função de experiências vivenciadas pela artista. Emerge, então, um conjunto de bordados de hematomas, petéquias, pelos inesperados e aftas. Nesse contexto, o quimerismo de plantas germinadas em esculturas de bronze e bordados de espécies distintas retomam o sentido híbrido aparente em obras anteriores. Embora se refiram ao corpo, as obras revelam delicadas abstrações têxteis, costuradas em linhas muito finas.

A carne do mar

Um sentido de profundezas, inspirado nos seres imaginários que lá habitam. Tomam forma cerâmicas orgânicas, que transitam entre ficção, devaneio, abstração e fantasias. Mar e carne, estranhas cores sanguíneas – obras humanizadas, que berram, desejam, sentem tristeza e tomam banho de sol. Rememora as praias da infância, onde recolhia, decepcionada, cacos de conchas, pois ansiava avidamente pelas inteiras. É pelos fragmentos que Brígida Baltar descobre a potência da incompletude.

Filmes

“Eu não pensava em fazer filmes, queria mesmo era cavar buracos na parede, plantar em tijolos, enterrar coisas, colher algumas substâncias… mas eram atos e lugares tão particulares que precisei de uma câmera para registrar.”